Este blog foi criado para compartilhar experiências de cozinha...as minhas e dos outros chefs também...Era setembro/2008, quando tive minha 1a.grande vivência com a alta gastronomia. Estava fazendo uma viagem para a França e Espanha com minha esposa Carolina para homenagear nossos ancestrais (família Delage Beltran) e comemorar nosso 2.o aniversário de casamento.
No roteiro desta viagem recheada de sabores, passamos por cidades como Madrid, Toledo, Barcelona, Carcassone, Aix en Provence, Cannes, Nice, Monte Carlo, Beaune, Djon, Lyon e Paris.
Na mesma época, estava fazendo um curso de culinária em São Paulo na escola de gastronomia Nicolau Rosa que me indicou alguns restaurantes com estrelas Michelin que faziam parte do meu roteiro. Comentou que não poderia deixar de conhecer o L´Auberge Du Pont de Collonges – Le restaurant Paul Bocuse (considerado por muitos o papa da gastronomia francesa).
Resolvi então fazer uma surpresa para a patroa. Fiz a reserva via site e escrevi que gostaria de comemorar uma data muito especial e necessitava de uma mesa bem localizada no salão do estrelado e premiado chef francês.
O restaurante que ostenta 3 estrelas Michelin desde 1965 (o mais antigo com esta honraria gastronômica em todo o mundo) é uma casa colorida e alegre localizada à beira do rio Saône, na cidade de Lyon. Quando chegamos lá no horário marcado, às 21:00 horas, fomos surpreendidos com a presença do próprio Bocuse nos recebendo na entrada principal do restaurante. Comentei que era aprendiz de chef de cozinha no Brasil e ele nos convidou prontamente para conhecer a cozinha e toda sua equipe de trabalho...foi o início de uma noite promissora e surpreendente.
Na sequência, ele nos acompanhou para uma linda mesa, com flores, e nos ofereceu um drink de cortesia e nos mostrou o menu de vinhos e o principal da casa. Não vou negar que demorei para escolher nossos pedidos, pois tanto eu quanto Carol ficamos durante um bom tempo encantados com a beleza do lugar, com os detalhes dos talheres, a mesa montada, as louças e os copos de cristal.
Bom, vamos ao que interessa....a comida: a minha entrada não podia ser mais exótica - escargot com molho de manteiga e ervas e a Carol foi um pouco mais comedida e pediu A "sopinha" de batata.
Foi engraçado ver a cara da francesada do salão ficar torcendo para que a cada molusco que eu colocava goela adentro, pelo menos um deles, eu deixasse escorregar a concha que estava presa ao meu pegador de mão e ela fosse parar na cabeça ou no colo de um desavisado das mesas vizinhas.
Na sequência, resolvemos encarar o prato principal...não foi uma missão fácil....eram tantas as opções...acabamos escolhendo versões diferentes de um "peixinho básico" que estavam simplesmente uma obra de arte em visual e aroma inebriantes...para aqueles que são adeptos de São Tomé e só acreditam vendo, dêem um espiada abaixo e comecem a salivar...
Ficamos admirando a beleza dos pratos por alguns minutos e quase mandei o garçom tirá-los da nossa frente e os colocasse em uma moldura para levar para casa. Passada a fase comtemplativa, devoramos os mesmos em poucas garfadas e já começamos a pensar na sobremesa...ia ser difícil a escolha.
Qual não foi a nossa surpresa, quando no momento que estavamos chamando o maitre para pedir uns "docinhos", todas as luzes do restaurante se apagaram e surgiu uma comitiva oriunda da cozinha carregando um bolo de trufa com recheio de framboesa fresca com uma vela acesa, uma escultura de açúcar em formato de leão (lyon), uma mensagem escrita com glace em um pedaço de chocolate branco nos parabenizando pelas bodas e um rapaz vestido de uniforme vermelho tocando um caixa de música de aniversário com o uso de uma manivela...super romântico...ficamos emocionados e vermelhos de vergonha como pimentões...momentos mágicos assim, verdadeiramente, não tem preço e só tenho que agradecer por esta experiência inesquecível...Merci Bocuse !